Um olhar sobre a transição de carreira para Área de Dados

Neste texto, procuro destacar a diferença entre as promessas de formações intensivas na área de Dados e a realidade, que exige uma compreensão profunda de matemática e estatística, por exemplo. Critico a superficialidade de muitos cursos e conteúdos disponíveis, ressaltando que minha própria experiência mostra a necessidade de estudos intensos e desenvolvimento projetos (preferencialmente, reais) que sejam desafiadores para alcançar sucesso sustentável na carreira.

Análise de Dados
Carreira
Author

Walter Soares

Published

October 17, 2024

Imagem gerada por meio de IA

Em um mundo cada vez mais digitalizado, a promessa de uma carreira na Área de Dados (Ciência de Dados, Análise de Dados, Engenharia de Dados e afins) brilha como um farol para muitos. Histórias de sucesso, conteúdos fragmentados, “pílulas de conteúdos” e cursos prometendo formações rápidas e indolores inundam a internet, apresentando um cenário, tentadoramente, acessível. Contudo, a realidade dessa jornada é, frequentemente, mais complexa e desafiadora do que os contos de fadas digitais sugerem. Inspirado por um artigo da Folha de São Paulo (o qual pode ser conferido neste link), que aborda a resistência de empresas em fechar parcerias com influenciadores digitais devido à falta de resultados tangíveis, traçarei um paralelo com o mundo dos Dados, onde a superficialidade e a falta de profundidade técnica podem ser igualmente problemáticas.

Assim como o artigo descreve empresários frustrados com influenciadores que prometem grande engajamento sem entregar resultados substanciais, o campo dos Dados é inundado com lives, postagens e cursos que prometem transformar novatos em especialistas quase que, da noite para o dia. Essas promessas, embora atraentes, muitas vezes escondem a complexidade inerente e a base técnica necessária para verdadeiramente se destacar na área.

Os campos da Ciência de Dados, Análise de Dados e Machine Learning, por exemplo, são compostos por disciplinas intrinsecamente técnicas, fundamentadas em rigorosos conceitos matemáticos, além de álgebra linear, estatística e probabilidade. Essas, são áreas que requerem não uma compreensão superficial dos conceitos, mas uma profunda apreciação das teorias e práticas subjacentes. Ignorar esses fundamentos é preparar-se para um percurso cheio de mal-entendidos e potenciais falhas na aplicação prática do modelos.

Minha própria jornada, por exemplo, com mais de vinte anos lecionando matemática em redes de ensino pública e privada à graduação em Ciência de Dados, seguida por um MBA na USP/ESALq e, agora, mestrado na USP, ilustra a natureza desafiadora desta transição. A diferença crítica entre a percepção pública e a realidade acadêmica e profissional da Ciência de Dados é vasta. As dificuldades encontradas na compreensão e aplicação de Machine Learning, por exemplo, são um testemunho do abismo entre a percepção popular e a prática real da disciplina.

Assim como a indústria começa a resistir à superficialidade de certas parcerias com influenciadores, penso que os aspirantes a cientistas de dados devem buscar uma compreensão autêntica e profunda de sua disciplina. A verdadeira competência em Ciência de Dados exige dedicação, um estudo rigoroso dos fundamentos matemáticos e estatísticos, e uma aplicação cuidadosa e ética desses conhecimentos. O caminho pode ser longo e cheio de desafios, mas é somente através da profundidade de compreensão que podemos esperar alcançar resultados significativos e duradouros na interseção entre dados, tecnologia e sociedade.

Além disso, um ponto crítico que merece atenção na jornada de aprendizado na área de Dados é a construção de portfólios. Percebo em muitos sites (ou postagens) uma exagerada utilização de conjuntos de dados já bastante explorados em contextos acadêmicos, limitando assim o potencial criativo e investigativo dos estudantes. Esta abordagem, embora útil para o entendimento inicial de técnicas e ferramentas, pode não preparar adequadamente os futuros profissionais para os desafios complexos e multifacetados que encontrarão no mercado de trabalho. A verdadeira valorização vem de projetos que abordem problemas reais, com dados não tratados e questões inexploradas. Esses projetos não apenas demonstram habilidade técnica, mas também criatividade, capacidade de lidar com a incerteza e habilidade para extrair insights valiosos de situações ambíguas – competências essenciais para qualquer cientista de dados que deseja se destacar profissionalmente.

Para quem está considerando ou já iniciou sua trajetória na área de Dados, a profundidade é chave. Incentivo que mergulhem nos princípios dos conceitos matemáticos, bem como os de estatística e probabilidade que são pilares desta área. É preciso que vocês sejam questionadores ao escolher cursos, lives ou postagens. O foco deve estar em desenvolver uma fundação sólida de conhecimentos, que não apenas em impulsionar sua carreira por meio de processos formativos que, muitas de vezes, apenas, apresentam scripts e códigos da aplicação de modelos estatísticos sem o aprofundamento necessário para uma formação consistente.